Em Caruaru, uma relação conflituosa com os toyotões

Apesar de suprirem parte importante do transporte na cidade, veículos só podem embarcar e desembarcar passageiros em 4 pontos: nas ruas Tupi, Felipe Camarão e Djalma Dutra e na Praça do Centenário

Géssica Amorim

Jipões ficam estacionados em ruas específicas da cidade, gerando protestos dos condutores (Foto: Géssica Amorim)

Todos os dias, cerca de 150 Toyotas alongadas trafegam pelos bairros de Caruaru, oferecendo serviços de transporte que ligam as zonas urbana e rural da cidade e levando passageiros até bairros como Malhada da Pedra, Serra Velha, Alto do Moura e Riachão. Ali, todo mundo sabe: aqueles carros chegam a lugares onde os ônibus e outros transportes coletivos não conseguem chegar, andam bem no asfalto e na estrada de terra. São resistentes, carregam praticamente todo tipo de  bagagem, de peso e volume variados, e têm um baixo custo de manutenção. No entanto, apesar de as Toyotas oferecerem vantagens para quem usa o veículo para trabalhar ou se locomover no dia a dia, elas não têm autorização para circular por todas as ruas e bairros da capital do agreste. 

Em 2018, a Prefeitura Municipal de Caruaru, através de um processo licitatório realizado em 2015 – que por questões judiciais levou três anos para ser efetivado -, dividiu o território do transporte público do município para a circulação de veículos de apenas três empresas de transporte: Tabosa, Coletivo e Capital do Agreste. Antes da licitação, a cidade tinha mais de dez empresas de ônibus. As que restaram ficaram de fora junto com os loteiros, como são chamados os motoristas do transporte alternativo.

Na época, a legalidade do processo chegou a ser questionada pelas empresas que não venceram a licitação e também na Câmara de Vereadores (no caso, a oposição) mas, até hoje, o trio Tabosa, Coletivo e Capital do Agreste segue operando em Caruaru. O prazo de vigência dos contratos foi firmado em 15 anos, podendo ser prorrogado por de mais cinco. 

Motoristas são responsáveis pela organização da saída e chegada dos veículos nos pontos (Foto: João Gabriel Lourenço)

Desde então, os pontos de embarque e desembarque para viagens locais das Toyotas passaram a ser limitados às ruas Tupi, Felipe Camarão, Djalma Dutra e à Praça do Centenário. Atualmente, a passagem custa R$ 3,50. Os toyoteiros associados à Cooperativa dos Transportes Alternativos de Passageiros de Caruaru, a COOPTRAALTER, que há mais de três anos lutam pela regulamentação das Toyotas em Caruaru, revezam  a ordem de saída e chegada.

Conseguir espaço entre os transportes coletivos autorizados a rodar por toda a cidade é prioridade para os toyoteiros caruaruenses. A regulamentação é uma necessidade para quem tem os carros como principal fonte de renda e só tem a opção de transitar por rotas limitadas. 

O presidente da Cooptralter, Luciano Ramos, 47, que também é toyoteiro, considera a Toyota Bandeirante um elemento fundamental para manter a economia da cidade ativa. “A Toyota ajuda a economia. A gente traz gente da zona rural pra cá, vamos buscar onde o ônibus não chega de jeito nenhum. Essas pessoas movimentam a economia de Caruaru”, defende.

População, principalmente a que reside na zona rural, conta com jipões no cotidiano (Foto: Géssica Amorim)

Luciano fala ainda da relação entre passageiros e motoristas, que, com a convivência frequente, tem abertura para a amizade e confiança. “O pessoal faz a feira e a gente deixa praticamente na porta. Se compra uma geladeira, um fogão, a gente leva em cima da Toyota. Tem gente que viaja com dinheiro ou sem dinheiro, porque a gente constrói essa confiança”.

SOLUÇÕES POSSÍVEIS

Segundo o advogado Narciso Júnior, 32, representante jurídico da Cooptraalter, a questão da regulamentação do transporte alternativo em Caruaru não é tão simples de resolver. Ele sugere algumas saídas para o problema: “uma das possibilidades seria a prefeitura voltar a expedir os alvarás de concessão para os motoristas do transporte alternativo, como aconteceu até 2017. Outra saída, que é um pouco mais difícil, seria a regulamentação direta, vinda do poder executivo, através de um projeto de lei que faz o caminho contrário aos que passam pelo legislativo. E, por fim, a solução também poderia ser conseguir tombar o transporte alternativo de Caruaru como patrimônio histórico, através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN”. Em Santa Cruz do Capibaribe, aconteceu exatamente esse processo de tombamento.